quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Estudando a “mordida”...

Amigos podem se ver diante de impasses, que ocorrem, geralmente, quando há mal-entendidos. Essa falha na comunicação exige cuidado extra, como uma conversa para resolver o conflito. E quando o melhor amigo é um cachorro? O embaraço pode ser externalizado em mordidas, segundo especialistas em comportamento animal. Por isso, uma equipe de pesquisadores britânicos decidiu estudar a fundo as dentadas a fim de fazer fluir a harmonia entre tutores e pets.

André
Estudo britânico investiga por que os cachorros mordem seus donos, e, segundo os autores, são alguns comportamentos humanos que fazem os animais a reagir de maneira agressiva.


Os investigadores assistiram a vídeos, divulgados na internet, em que pessoas eram mordidas por cães. A intenção era identificar as características que antecederam à reação inesperada do animal, o que, segundo eles, pode ajudar no desenvolvimento de estratégias preventivas. Ao todo, foram analisados 143 vídeos, publicados entre janeiro de 2016 e março de 2017.

“Construímos um sistema de avaliação da severidade das mordidas com base no que podíamos ver nas imagens, considerando o número de mordidas, se o ataque perfurou a pele, se o cachorro balançou a cabeça enquanto mordia e se segurou a pessoa por mais de um segundo. Quanto maior a pontuação, mais grave era a mordida”, detalha Sara Owczarczak-Garstecka, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Liverpool.

Em 56 vídeos, os pesquisadores também conseguiram analisar detalhes do comportamento humano e canino que levaram à mordida. “não realizamos análises estatísticas que nos permitissem dizer que o comportamento x causou a violência, mas vimos o que levou à mordida”, pondera Sara Owczarczak-Garstecka.

Três situações foram identificadas: aumento na proximidade do pé ou no ato de se inclinar sobre o cão (aproximadamente 35 segundos antes da mordida), a postura de acariciar o animal (21 segundos antes) e de evitar que ele se movesse (21 segundos antes).

“Essas descobertas poderiam oferecer uma nova visão valiosa para o desenvolvimento de estratégias de prevenção de mordidas. Mensagens de prevenção poderiam enfatizar o risco de se debruçar sobre um cão e simplesmente aconselhar a evitar contato com um cachorro quando possível ou se estiver em dúvida se ele pode atacar”, frisa Sara.

Segundo a pesquisadora, a maioria dos estudos é baseada em evidências identificadas após o ataque, como registros hospitalares e entrevistas com as vítimas. Especialistas em comportamento animal, porém, defendem que o foco se volte também para prevenção, o que resultaria em implicações para a saúde e o bem-estar humano e animal.

“Observando o comportamento do cachorro e do ser humano segundos antes da mordida, acredito que é um alerta para as pessoas que têm total confiança no cachorro e que afirmam que ele nunca morderá um membro da família. Os dados também ajudam a entender que um cachorro não deve ser obrigado a tolerar tudo o que o ser humano lhe quer impor”.

Linguagem corporal

Bali
Também foi avaliado que os dados da pesquisa britânica podem ser úteis para entender o comportamento dos cães e evitar mordidas. Segundo ele, esse é o caminho proposto por treinadores comportamentalistas que não usam métodos aversivos. “Expressões corporais podem ajudar em muito na prevenção de acidentes”.

Todo tutor de um cão deveria buscar aprender a linguagem corporal de seus cachorros. “Mas, infelizmente, como foi constatado na pesquisa, poucas pessoas se atentam a isso. Elas não observam os sinais de estresse que antecipam a mordida ou, em muitos casos, os cães foram tão punidos que aprenderam a ocultar esses sinais.”

Uma análise mais ampliada dos ataques de cães poderia trazer resultados ainda mais úteis. “Como ocorrem mordidas que não são filmadas nem registradas, a pesquisa deveria continuar com perguntas diretas a famílias com cachorros”.

Boa parte das vítimas comete erros na forma como se comportam diante do animal. “Não sabem ler o cachorro e, consequentemente, não percebem que vão ser mordidas. Também há muitos tutores que, por estarem num estado de negação da agressividade do cachorro, facilitam o ataque a outras pessoas”.

Rosnadas

Camilla Sandri, 29 anos, enfrentou o problema em casa, com Theodoro. “Um dia, ele ameaçou me morder, deu uma rosnada.

Outro dia, eu estava fazendo carinho, ele virou a cabeça e me mordeu. Fiquei sem saber o que tinha acontecido. Ele já vinha rosnando havia um mês. Com isso, acabei me afastando, deixando-o mais distante da família”, conta a especialista em marketing.

Sem saber a causa da agressividade do cão, Camilla buscou ajuda de treinadores, que a estão orientando sobre como lidar com Theodoro. “Temos aulas há alguns meses, e eles me ajudaram a identificar o que poderia ter ocasionado essa mordida. Disseram que ele tinha uma agressividade por posse, que ele me mordeu provavelmente porque a vasilha de comida dele estava perto”, diz.

A especialista em marketing mudou a forma de cuidar do seu cachorro e comemora os resultados já atingidos. “Eu tirei a vasilha, comecei a dar comida na mão ou a jogar no chão. Isso melhorou bastante. Agora, ele já está mais próximo da família e não temos mais esse problema de agressividade”, frisa.

Capitu
Análise dos sinais de alerta

Alguns comportamentos antecederam o ataque de cães nos vídeos analisados pelos pesquisadores britânicos, veja quais são as três principais situações que ocorreram mordidas:

35 segundos antes
A vítima aproximou o pé do cachorro ou se inclinou sobre o animal

21 segundos antes
A vítima acariciou o animal

21 segundo antes
A vítima fez algo para evitar que o cachorro se movesse.



Impressionante não!! São situações que aparentemente parecem de carinho ou inofensivas, porém, em determinado momento ou clima podem ser interpretados de outra forma pelo seu cão.