sábado, 23 de agosto de 2014

Maus-tratos, responsabilidade de todos!!!

Com relação ao respeito pelos animais, a sociedade precisa tomar novas atitudes, além de fazer cobranças.


Cachorro arrastado por um carro; filhote esfaqueado e outro enterrado vivo; cães baleados; cachorro “guardado” no porta-malas e, mais recentemente, mulher suspeita de matar cães e gatos que recolhia. Houve também o vídeo abominável de maus-tratos a um cão da raça Yorkshire, que foi espancado pela proprietária na frente de uma criança. São casos de polícia que, por suas imagens chocantes de grande apelo público, viraram notícia na internet, nos jornais e na televisão, alguns chamando a atenção da opinião de todo o País.
Não existe justificativa para barbáries como essas, praticadas contra seres indefesos que só fazem o bem às pessoas com as quais convivem. Os responsáveis precisam ser investigados e punidos com base na legislação brasileira.

Cuidar mal também constitui maus-tratos

O mais triste é saber que tais episódios não são esporádicos e que a falta de respeito para com os animais está presente em diversas ações do ser humano, várias delas, infelizmente, sem alcançar exposição na mídia.
Muitos valores estão distorcidos na sociedade de hoje. Um exemplo é a “coisificação” dos animais quando são vistos como semelhantes a uma bola, a uma boneca ou a um brinquedo, como algo que não tem sentido nem vida. Presentear crianças com cão, gato, peixe, tartaruga ou roedores é bastante comum.

Ter um animal implica em assumir a responsabilidade de tratá-lo adequadamente

Mas é preciso lembrar que a posse de um animal resulta em responsabilidades. Um ser vivo precisa de cuidados, de alimento e de carinho. Não podemos fazer com um animal qualquer coisa que quisermos. É necessário cada vez mais divulgar e praticar a posse responsável.

Ao pensar em dar um animal como presente, é importante antes analisar todas as implicações para a família que o hospedará e saber da disposição dela para assumir a responsabilidade. Caso contrário, o animal estará sujeito a atitudes desequilibradas e de crueldade, que podem chegar a ser extremas. Deixá-lo sem água ou alimento é um exemplo de crueldade. Não cuidar da saúde, da vacinação e da higiene também não é correto.

Orientações sobre posse responsável podem ser oferecidas por qualquer médico veterinário do Brasil. Há mais de 80 mil profissionais atuando no país à disposição da sociedade.

Maus-tratos fora das residências

Vale lembrar que os maus-tratos ocorrem não somente com animais domésticos. Acontecem também quando a aglomeração de animais para a produção é excessiva e não existe manejo racional; quando os animais são utilizados para esportes agressivos como vaquejadas e corridas e não existem limites ou regras; quando pesquisadores científicos não consideram as orientações das Comissões de Ética no Uso de Animais (Ceuas) das instituições de ensino.



O papel do Conselho Federal

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), por meio da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (Cebea), está atento às questões que influenciam o bem-estar dos animais, levando-as em conta ao regulamentar as normas para o exercício profissional da medicina veterinária e da zootecnia. Um exemplo é a recente resolução sobre o controle de natalidade, na qual são normatizados os procedimentos de contracepção de cães e gatos em programas de controle populacional. Faz mais tempo, o CFMV instituiu uma resolução que proíbe a realização de cirurgias mutilantes, como corte de orelhas e de cauda em cães, por médicos-veterinários. Outras regulamentações e orientações estão em estudo, como um guia exclusivo para médicos-veterinários sobre os procedimentos de eutanásia. O CFMV continua atento, com o propósito de contribuir para o bem-estar dos animais e a divulgação de práticas responsáveis ao lidar com eles.

Mudanças de atitudes

Para haver redução nos maus-tratos praticados contra os animais, é preciso que a sociedade se conscientize da necessidade de acabar com certas práticas. De nada adianta pessoas fazerem cobrança, se elas mesmas não colaborarem nem mudarem de atitude. É inútil a elaboração de leis se não houver preocupação em dar condições para colocá-las em prática. O poder público pode agir, e muito, no combate aos maus-tratos e na elaboração de leis nesse sentido. Ao mesmo tempo, a sociedade não pode se manter alheia ao que vê nem ao que é feito no dia a dia.


Benedito Fortes de Arruda é médico-veterinário e presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária.
Publicado em Revista Cães & Cia, n. 394, março/2012.


Nenhum comentário:

Postar um comentário